As voltas da História

DEDICADO A TODOS OS MEUS PACIENTES
3m de leitura

O MÉDICO DA PESTE

Um dia iremos acordar deste terrível pesadelo!

Por agora temos de olhar para nós, encarar a nossa própria realidade e lutar para que este inimigo invisivel não seja mais forte do que a nossa capacidade de lutar. Será fácil? Não, mas irá servir, certamente, para uma profunda reflexão sobre a essência das nossas vidas e preparar-nos para uma mentalidade de maior abrangência, e tolerância, no futuro. Certamente que agora temos outra visão das nossas capacidades, daquilo que estava dentro de nós e que nunca tinhamos percepcionado, da nossa resiliência, da nossa força individual e colectiva.

Portugal sempre foi um país de gente sofrida que balançou, teimou em cair... mas sempre se reergeu! Recuemos ao ano de 1569 quando peste matou 60 mil pessoas em Lisboa. Este período ficou conhecido como a Grande Peste de Lisboa. Esta Grande Peste começou em Julho de 1569 e só terminou na primavera do ano seguinte. Parecia, não existir maneira de travar este período de morte negra, como era muitas vezes conhecido. Lisboa estava reduzida a um terço da sua população habitual. Tambem neste periodo nos socorremos de outras experiências, de outras realidades europeias. Curiosamente, como agora, a realidade italiana e espanhola nortearam o nosso modo de operar. Nessa época a população, sobretudo de origem mais humilde, era normalmente internada à força. D. João III teria mandado anteriormente a Veneza, uma delegação para se informar e inteirar de todas as medidas sanitárias a adoptar para o combate da peste. No ano, fatidico, da Grande Peste de Lisboa, foi a vez de D. Sebastião mandar vir de Sevilha dois médicos, com grande experiência no combate a esta doença. Ambos especialistas, organizaram várias medidas e protecção à propagação da peste. Algumas dessas medidas regressam ao fim de cinco seculos:”reforçar o abastecimento de víveres à cidade; proceder a limpeza das ruas; proceder ao encerramento dos banhos públicos; colocar de quarentena os navios de transporte de escravos; contratar médicos para cuidados domiciliários; não sair de casa e aspergir o interior da casa com vinagre”.

Infelizmente nem sempre estas medidas foram cumpridas à risca apesar das sansões aplicadas por parte do poder régio e também pelo provedor mor da saúde: para o povo, açoitamento em publico e degredo por sete anos na ilha de S.Tomé. O cavaleiro, escudeiro ou mercador teriam penas mais leves e menos vergonhosas, multa e dois anos de degredo, normalmente, numa aldeia da Beira interior. Mas recuemos um pouco mais até ao seculo XIV, pela altura da primeira pandemia de peste negra. Reinava na altura D.Afonso IV e a peste negra chega a Portugal no final de Setembro de 1348 e termina repentinamente em final de Dezembro. Pelo caminho morreu metade da população. Instalou-se uma crise económica devastadora e uma crise politica que...quase nos fez perder a independência.

Serve esta reflexão histórica, e regresso ao passado, para termos uma noção colectiva de que podemos vencer esta batalha sobre a SARS-Cov-2... cumprindo as medidas por todos conhecidas, mantendo actividade fisica e mental, valorizando a vivência familiar, retomando hábitos antigos (leitura, jogos de tabuleiro, jogos tradicionais, entre outros) mas...permanecendo em casaa. A nossa casa é o nosso castelo e unidos e disciplinados vamos conseguir ... sem necessidade de açoites ou degredo. Quanto á economia a história ensinou-nos a sofrer mas, ao longo do nosso percurso, nunca perdemos a nossa identidade como nação ... e já vencemos batalhas bem piores do que esta.

HENRIQUE JONES